Quando foi criado pelo Governo Federal em dezembro de 2014, o eSocial já havia passado por uma série de discussões organizadas pela Fenacon. Ciente da importância do sistema para a classe contábil e para as micro e pequenas empresas brasileiras, a Federação criou um grupo de trabalho para debater as questões polêmicas e elaborar soluções.
O eSocial, como ficou conhecido o Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas, foi desenvolvido a partir do Sistema Público de Escrituração Digital (Sped). Seu objetivo, que aos poucos vem sendo alcançado, é digitalizar e unificar o envio das informações fiscais, previdenciárias e trabalhistas das empresas e simplificar a prestação de contas da iniciativa privada com o poder público.
Documentos como a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) e a Declaração do Imposto de Renda Retido na Fonte (DIRF), entre outros, passaram a ser reunidos em um único sistema online, o que evita prestações de contas duplicadas e inconsistências nos dados.
Em entrevista à revista da Fenacon de novembro de 2014, José Alberto Maia, coordenador do Grupo Especial de Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego para o desenvolvimento do eSocial, mostra como era labiríntico o envio de informações trabalhistas ao fisco até a criação do eSocial.
“Hoje o envio das informações trabalhistas ao Fisco é complicado, oneroso e ineficiente. Há multiplicidade no envio das informações, que várias vezes é feito muito tempo após a ocorrência do fato que está sendo registrado. Há pesquisas que apontam o Brasil como um dos países onde é mais difícil cumprir as obrigações acessórias, que basicamente consistem na prestação das informações necessárias para que se assegure o cumprimento das obrigações principais.
“Além de complicado, o modelo atual se mostra ineficiente do ponto de vista de assegurar os direitos dos trabalhadores, os quais muitas vezes têm de recorrer a processos administrativos ou judiciais para ter acesso a benefícios a que fazem jus.”
A Fenacon esteve presente desde a concepção do eSocial. Em maio de 2014, quatro meses depois de assumir a presidência da federação, Mário Elmir Berti participou do primeiro encontro do grupo de trabalho do governo que discutiu o cronograma da plataforma. O novo presidente da Fenacon trazia a experiência de quase 30 anos de vida sindical – fundou a associação dos contabilistas de São José dos Pinhais (PR) e foi duas vezes presidente do Sescap do Paraná. Além de Berti, sentaram-se à mesa daquela reunião inaugural o ministro do Trabalho, Manoel Dias, o secretário da Receita Federal do Brasil, Carlos Alberto Freitas Barreto, o representante do Ministério da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, e o presidente do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), Lindolfo Neto de Oliveira Sales.
“A tecnologia hoje é tão importante para o empresário quanto a matéria-prima e a mão de obra. É bem verdade que, no primeiro momento, a implantação dessas novas tecnologias traz desconforto, gasto e necessidade de treinamento, além de motivação para os benefícios, que nem sempre são tão palpáveis assim. Mas, no segundo momento, essas ferramentas servirão para a diminuição da burocracia e das obrigações acessórias, o que, por si só, já terá valido todo o esforço. E, mais que isso, vai permitir que façamos nossa prestação de serviço com mais eficiência e com mais segurança” - Mário Elmir Berti, falando sobre o eSocial em entrevista para a revista da Fenacon em janeiro de 2014.
Em paralelo à criação do grupo especial supracitado, a Fenacon também colocou para funcionar seu próprio grupo de debates. Seu coordenador, Helio Donin Júnior, diretor de Educação e Cultura da federação, disse à época que o eSocial era “um dos maiores projetos de TI [tecnologia da informação] governamentais do mundo”. A primeira reunião do grupo da Fenacon para debater o eSocial aconteceu em 11 setembro daquele ano na sede do Sescon-SP. O foco do encontro de abertura foi a questão tecnológica necessária para a implementação do sistema.
O então presidente do Sescon-SP, Sérgio Approbato Machado Júnior, que viria a se tornar o próximo líder da Fenacon, frisou em seu discurso que o segmento contábil está no dia a dia operacional das empresas e, portanto, “sabe das dificuldades destas organizações, especialmente das pequenas”. Dito e feito. Graças ao conhecimento do grupo de trabalho da Fenacon e às soluções pensadas por seus participantes e levadas ao Grupo de Trabalho do governo, o eSocial simplificou de fato as questões trabalhistas para contribuintes, empregadores, empregados e governo.
Em entrevista à revista da Fenacon de junho de 2016, Donin fez a seguinte consideração sobre o papel da federação nas discussões para a implantação do eSocial.
“A Fenacon fez inúmeras sugestões, algumas aceitas outras não, desde a necessidade de procuração eletrônica para operar o eSocial até alterações de registros que se mostravam inviáveis na prática. Todos os diretores da Fenacon integrantes do GT tiveram atuação fundamental nessa construção.”
"Entram o sucateamento de muitas juntas comerciais (com raras exceções), a teimosia em não integrar junta comercial com Receita Federal, para fins de emissão de contrato e CNPJ num mesmo ato, dificuldades mil em prefeituras com exigências absurdas e descabidas, inscrição estadual cheia de quesitos mínimos a serem preenchidos, e por aí vai" - Mário Elmir Berti, falando sobre o eSocial em entrevista para a revista da Fenacon em janeiro de 2014.
Para difundir as informações relacionadas ao eSocial, a Fenacon chegou a criar, em maio de 2016, o projeto Árvore do Conhecimento (www.arvoredoconhecimento.org.br), um portal na internet com vídeos rápidos feitos por especialistas para orientar empresas e o setor contábil sobre o uso da ferramenta. Partiu da Fenacon também o pedido de adiamento da implantação do sistema. Devido à ousadia das regras propostas pelo eSocial muitas empresas tinham dificuldade de se adequar à ferramenta. Em novembro de 2015, Approbato defendeu que sistema fosse devidamente testado e aprovado antes de entrar em ação. Houve forte resistência do governo, mas a Receita Federal aceitou adiar a implantação do projeto.
Donin, o coordenador do grupo de trabalho da Fenacon, escreveu sobre o tema em artigo para a revista da Fenacon de maio de 2018;
“Muito se fala sobre o eSocial, sua complexidade e dificuldade de aderência ao cotidiano das empresas. É verdade! A área do departamento de pessoal por décadas colecionou hábitos culturais que nem sempre aderem à legislação trabalhista. Alguns casos são tão comuns que os principais sistemas da área operam de forma diversa ao que deveriam. Um caso bastante interessante são os sistemas que emitem o aviso de férias junto com o recibo da mesma operação, como se fosse um kit. Ora, se o aviso deve ser formalizado com o funcionário 30 dias antes do período de férias, como pode ser emitido no mesmo momento?”
“Na área contábil não deve ser diferente. Culturalmente já temos o danoso hábito de ‘deixar para a última hora’, e percebo que diversas empresas contábeis continuam operando dessa maneira. Mas com o eSocial deve ser diferente. O projeto demanda planejamento e precisa cumprir uma série de etapas anteriores para viabilizar o funcionamento da ferramenta. Ou seja, deixar para a última hora vai dificultar o projeto nas empresas” - Helio Donin Júnior, diretor de Educação e Cultura da Fenacon em 2014.
O sistema se tornou obrigatório em janeiro de 2018, para pessoas jurídicas de direito privado com faturamento anual superior a R$ 78 milhões. Já para os demais empregadores, incluindo as micro e pequenas empresas, a obrigatoriedade passou a vigorar a partir de julho de 2018.
A partir da implementação da plataforma, o envio de informações passou a ser padronizado, por um canal único, sem duplicidade. A recepção dessas informações ficou a cargo do Estado, em um ambiente seguro e acessível aos empregadores a qualquer momento. Elevou-se a qualidade das informações captadas pelo Fisco e os custos das empresas com a guarda dessas informações caíram.
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