Fenacon 30 Anos

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Capítulo 1

A criação

Um dia histórico no vale do Anhangabaú, centro de São Paulo
26 de abril de 1991

Presidente Anníbal de Freitas

Fim da década de 1980. Um novo capítulo se abre na história do mundo. A queda do muro de Berlim abrevia a Guerra Fria e intensifica a globalização econômica e social. Os computadores diminuem de tamanho e ganham espaço nas mesas de empresas e nas escrivaninhas de residências. A internet, ainda desconhecida, começa a quebrar a casca do ovo. Enquanto as mudanças se acentuam, um grupo de profissionais da contabilidade, percebendo o impacto disruptivo das novidades, reúnese para pavimentar os próximos passos do ofício. Defendem a necessidade de uma reorganização do setor contábil para fazer frente a um cenário cada vez mais competitivo.

Entre esses empresários destacam-se o paulista Annibal de Freitas, o gaúcho Ivan Carlos Gatti e o carioca Orlando Lima, três figuras proeminentes no universo da contabilidade e com uma longa trajetória classista. Quem conta sobre os movimentos que antecederam a criação da Fenacon é Irineu Thomé, que anos mais tarde se tornaria presidente do Sescon-SP e o segundo presidente da Fenacon.

“Em 1987, durante uma reunião na sede do sindicato das empresas de serviços contábeis do Rio Grande do Sul, começou uma conversa paralela sobre a necessidade de termos uma federação nacional, que falasse em nome de toda a categoria. Nós não tínhamos representação nacional. Os sindicatos estaduais eram filiados às respectivas federações do comércio. Três pessoas se destacaram nessa conversa: o Anníbal, nosso guru em São Paulo, muito ativo na área sindical, o Gatti, do Rio Grande do Sul, que chegou a ser o presidente do Conselho Federal de Contabilidade, órgão máximo do setor, e o Orlando Lima, então presidente do Sescon do Rio de Janeiro. Nessa reunião chegamos à conclusão de que a federação nacional deveria existir e que sua sede seria em São Paulo. O sindicato paulista já era o mais importante do País, recebia contribuições sindicais e tinha algum dinheiro.”

“Mas não se funda uma federação de um dia para o outro. Em janeiro de 1988 foi feita uma nova reunião, dessa vez em São Paulo, no Hilton, na avenida Ipiranga. Essa reunião, a primeira Convenção Nacional dos Empresários de Contabilidade [Conec], foi coordenada pelo José Serafim Abrantes. Participaram representantes dos sindicatos de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal. O Gatti formalizou a ideia da criação da federação e o Orlando sugeriu que o Anníbal assumisse a presidência.”

Irineu lembra-se que entre os diversos temas debatidos no encontro, o que mais gerou interesse foi a utilização da informática, ferramenta ainda nova para os contadores naquela final de década.

Dois encontros importantes – já batizados como Conesc (Convenção Nacional das Empresas de Serviço Contábil) – sucederam a reunião do hotel Hilton. Em agosto de 1989, os empresários contabilistas se reuniram em Gramado (RS). O novo sistema sindical, definido pela Constituição Federal de 1988, e debates sobre ética tomaram boa parte das discussões da 2ª Conesc. Em outubro de 1990, o encontro foi em Águas de Lindóia, interior de São Paulo. O Brasil pós-Plano Collor pautou as conversas que versaram sobre o papel do contador nesse novo momento do País.

Nesta 3ª Conesc, a advogada Maria Arakaki defendeu que, com as novas medidas impostas pelo governo, o contador ganhava e importância e tornava-se uma espécie de conselheiro do empresário. Também palestrou no encontro de Águas de Lindoia o publicitário Roberto Duailibi. Ele destacou a necessidade de as empresas utilizarem as ferramentas de marketing para alavancarem o crescimento do negócio.

Entre os debates propostos nas convenções, as articulações entre os líderes do setor foram solidificando a criação da Fenacon e embasando os termos para sua fundação.

"Como era necessário um número mínimo de sindicatos para fundar uma federação nacional, os empresários de contabilidade começaram a perceber a importância de abrir sindicatos em seus estados. O Anníbal de Freitas, já como futuro presidente, passou a ajudar muito nesse processo" - Irineu Thomé, presidente da Fenacon de 1995 a 1997.

Em 26 de abril de 1991, representantes de oito sindicatos estaduais reuniram-se para finalmente dar luz à nova federação. A assembleia começou por volta das 10h na sede do Sescon-SP, no 23º andar do edifício CBI Esplanada, no número 367 da rua Formosa, no Vale do Anhangabaú, centro histórico de São Paulo. Conforme relata a ata de fundação da então denominada Federação Nacional das Empresas de Serviços Contábeis, Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas, acrônimo Fenacon, estavam presentes os sindicatos de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará e do Distrito Federal.

Presente à reunião, Eliel Soares de Paula, à época diretor do Sescon-DF, relembra que, além de um clima de euforia devido à realização de um projeto lapidado durante anos, a reunião realçou o momento de elevada autoestima dos empresários de contabilidade.

“Quando o Gatti foi presidente do Conselho Federal de Contabilidade, de 1990 a 1993, ele mudou o conceito da profissão no Brasil e elevou muito a nossa autoestima. Estávamos próximos da virada do milénio e o Gatti pregava que a contabilidade seria a grande profissão do ano 2000. Ele tinha esse discurso e o fazia de maneira inflamada. Isso fez crescer o nosso movimento, fomentou a abertura de sindicatos nos estados e, de certa maneira, levou à criação da Fenacon. Toda vez que nos encontrávamos em eventos e congressos, discutíamos o projeto da Fenacon. Então, quando chegamos a essa reunião [do dia 26 de abril de 1991], tudo estava costurado. Era só formalizar e tornar oficial. Já saímos com a primeira diretoria constituída e com o Anníbal declarado presidente.”

Os signatários da ata de fundação tinham ciência, no entanto, que aquele dia histórico era apenas o primeiro de uma jornada longa e repleta de obstáculos. Entre os entraves já previstos, como conta o mineiro Eliel, estava a oposição de entidades classistas incomodadas com a chegada da nova federação.

“Sabíamos que a fundação da Fenacon era o pontapé inicial, que tinha muita briga pela frente. Iríamos enfrentar concorrência de sindicatos e a resistência de federações. O Sescon-SP era um dos maiores sindicatos da Federação do Comércio, um dos maiores em arrecadação. Com a nossa saída, eles perderiam um dos filiados que mais contribuíam financeiramente.”

Thomé relata que apesar de a assembleia de fundação ter acontecido em abril de 1991, sua divulgação deu-se somente em janeiro do ano seguinte. O adiamento teria sido um pedido do presidente da Fecomercio, Abram Szajman.

“Nós fomos falar com ele; o Anníbal e eu. Perguntamos se ele iria impugnar a Fenacon. A conversa foi longa. Argumentamos e dissemos que a entidade era de importância fundamental para a categoria. O Abram foi muito receptivo e simpático. Respondeu que não impugnaria, mas pediu para esperar: ‘Vocês façam a sua federação no ano que vem’. Acredito que ele queria manter a receita das contribuições sindicais daquele ano.”